Padre Santo




Reflexões
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09/04/19
MEDITAÇÃO Á SENHORA DAS DORES




 

Meditação à Senhora das Dores

 

  

Quando se reza o Santíssimo Rosário, quais são os Mistérios que se reza de preferência?

Com toda a certeza, os Mistérios Dolorosos.

Há anos consegui uma maneira de se rezar os Mistérios Gozosos e os Mistérios Gloriosos sem deixar de meditar nas Dores de Nossa Senhora. Uma meditação diferente, que as pessoas não estão habituadas.

Como se sabe, é fácil meditar-se nas Dores de Nossa Senhora no 4º e no 5º  Mistério Gozoso. Mas quem vai meditar nas Dores de Nossa Senhora nos tres primeiros Mistérios Gozosos? Mistérios Gozosos são Mistérios Gozosos,  não são Dolorosos. A mesma coisa em relação aos Mistérios Gloriosos. Nos Gloriosos medita-se na alegria, não em sofrimentos.

Quem vai meditar nas Dores de Nossa Senhora quando Ela vê Jesus ressuscitado, quando vê Jesus subir ao Céu, na alegria do Pentecostes, quando Ela sobe ao Céu ao encontro do Filho, quando é coroada Rainha? Ninguém.

São essas meditações das Dores de Nossa Senhora que ofereço. Devo dizer que estas meditações não são exatamente minhas. São textos que tirei de vários livros e que fui encaixando nos Mistérios e pouco a pouco, saiu este trabalho. Das várias festas litúrgicas que já fiz, esta foi a que mais gostei, exatamente por causa de se meditar nas Dores de Nossa Senhora nos mistérios da alegria, tanto gozosos como gloriosos. Não fiz a meditação dos Mistérios Dolorosos exatamente porque é fácil meditar-se nas Dores de Nossa Senhora durante a Paixão de Jesus. Na altura em que fiz estas meditações, ainda não haviam os Mistérios Luminosos. Por isso não os tenho.

 

Vamos então à meditação dos Mistérios Gozosos e Gloriosos. 

 

Mistérios Gozosos


Anunciação do Anjo

Os teólogos de Maria chamam-Lhe Co-Redentora. Os Santos Padres diziam "Associada à Paixão". Ambas as expressões significam a mesma realidade. Diz S. Luis Maria Grignion de Monfort, que foi na Anunciação que Jesus operou todos os mistérios, que depois se seguiriam na Sua Vida, pela aceitação que deles fez: "Eis que venho, ó Deus, para fazer a Vossa Vontade" (Heb 10,7). O mistério da redenção do homem começou na encarnação do Verbo no seio de Maria. O Filho que Ela gerou já nasceu Redentor. Porque Mãe do Redentor, Maria estava na Encarnação, em união com Jesus crucificado, como esteve mais tarde, no Calvário, sendo por isso Co-Redentora. Para que Jesus nos desse a vida, precisou de tomar a Sua. Estava de pé junto à Cruz. Tinha de estar. Era ali o lugar escolhido desde a hora da Anunciação.



Visitação de Nossa Senhora à Santa Izabel

Maria foi imaculada desde a Sua Conceição, o que significa que Deus habitou n'Ela permanentemente. Foi a partir da Anunciação, que Deus passou a habitar n'Ela de maneira cada vez mais perfeita. A caridade é uma virtude que exige muita renúncia à vontade própria. Maria soube praticar esta virtude com uma disponibilidade sem reserva, em grau eminente. Sendo Ela imaculada, foi portanto, pela prática desta virtude, que Maria cresceu cada vez mais no amor a Deus, e foi por ela que conheceu a dor até ao extremo limite. Sendo a própria pureza e toda entregue ao Criador, Maria praticou esta virtude de outra maneira, sofrendo intensamente por causa das feridas feitas ao Amor Divino, pelas ingratidões da humanidade, e particularmente, pela falta de caridade que imperava no Seu tempo entre o povo judeu, pois o ódio era geral.

  

Nascimento de Jesus

Maria conhecia bem a Sagrada Escritura e sabia que estas palavras de Isaías se referiam ao Messias: "Vimo-Lo sem aspecto atraente, como um Homem de dores, diante do qual se tapa o rosto; desprezado e sem valor para nós. Ele suportou os nossos sofrimentos e aguentou as nossas dores; nós julgamo-Lo leproso, ferido por Deus e humilhado, trespassado pelas nossas revoltas, triturado pelos nossos crimes. O nosso castigo salutar caiu sobre Ele, fomos curados pelas Suas Chagas". Maria sabia, pelo Anjo da Anunciação, que o Seu Filho era filho de Deus.
Quantas vezes não terá Ela, cujo Coração era imaculado e cheio de amor a Deus, contemplado o Rosto puríssimo de Jesus, desde o Seu nascimento em Belém, e pensado, com dor, em tudo o que o profeta anunciara que Lhe iria acontecer? Tanto mais que essa dor se reavivava, e se tornava cada vez mais pungente, toda vez que olhava para Jesus e via aproximar-se a hora da realização de tão amarga profecia, mas também cada vez que lia ou ouvia tal passagem.


Apresentação do Menino Jesus no Templo

As mães judias eram obrigadas em cada parto, a serem separadas como impuras, durante 40 dias se menino, e 80 se menina. Depois, deveriam ir ao Templo para serem purificadas e oferecerem um sacrifício. Contudo, Maria não tem necessidade de purificação porque, por um privilégio inefável, era Mãe-Virgem e, além disso, Imaculada. Os grandes dons que Deus Lhe tinha dado, sem mérito algum da Sua parte, devem pagar-se. Não há privilégio algum que não custe sofrimento. Por isso, Deus anuncia-Lhe pela boca de Simeão que Lhe vai exigir o sacrifício supremo: a oferta do Seu Filho para redenção do mundo. Em generosidade Maria superou todos os mártires, pois enquanto estes ofereciam a sua vida, Maria ofereceu a do Filho, a Quem amava muito mais do que a Si mesma, sendo por isso a Rainha dos Mártires. Sendo Ela mais santa que todos os anjos e todos os homens, sofreu em proporção da Sua santidade, sendo por isso a Senhora das Dores.

 

Perda e encontro de Jesus no Templo

Também este mistério está relacionado com a Paixão de Jesus, pois os três dias que medeiam entre a perda e o encontro, simbolizam os três dias que medeiam entre a morte e a ressurreição de Jesus. Para fazermos uma ideia do que Maria sofreu nesses 3 dias, vejamos o seguinte caso tirado da vida da Venerável Benvenuta: tendo a santa rogado à Nossa Senhora a graça de poder sentir a dor que Ela sentiu quando perdeu o Seu Filho no Templo, apareceu-lhe a Mãe de Deus tendo nos braços o Menino. Á vista daquela encantadora criança, Benvenuta caíu em extase, mas de repente viu-se privada da presença do Menino Deus. Sentiu então tamanha dor que invocou Maria para não morrer de pesar. Depois de 3 dias (símbolo da perda do Menino por Maria), a Virgem apareceu-lhe e disse-Lhe: "Ouve, minha filha. A tua dor não foi senão uma pequena parcela da Minha ao perder no Templo o Meu Filho".

 

Vamos então à meditação dos Mistérios Gloriosos.


1 – Nossa Senhora sofreu de modo tremendo com a Paixão de Jesus. Já vi mesmo uma meditação que dizia que as Suas dores dariam para matar toda a gente em todo o mundo. Daí Ela ser a Senhora das Dores. Quando Jesus Ressuscitado Lhe apareceu, as Suas dores eram tão profundas que Ela não passou de imediato do sofrimento para a alegria. De tal maneira que Jesus, como diz o texto da meditação, tinha estado “muito tempo” com Ela, o que teria sido necessário para A consolar. É este tempo em que Jesus esteve com Ela, já ressuscitado, que se pretende meditar para A fazer passar das dores para a alegria, o que não foi fácil.


2 – Ainda se pode meditar o primeiro mistério de outra maneira. Se é certo que os Mistérios Gloriosos são os mistérios da alegria, isso não impede de se meditar no sofrimento que nossa Senhora sentia no Seu íntimo em toda a Sua vida até à Assunção, cada vez que meditava na Paixão de Jesus. No fundo as dores que Ela sentiu durante a Paixão ficaram profundamente gravadas no Seu Coração durante toda a Sua vida, mesmo depois de Jesus ressuscitar.

 

Ressurreição de Jesus

A primeira tarefa de Jesus Ressuscitado foi consolar os Seus íntimos amigos, sobretudo aqueles que mais de perto participaram na Sua Paixão e Morte. Entre eles, quem duvida que teve o primeiro lugar a Virgem Imaculada? Foi aliás o que Jesus revelou a Santa Teresa de Ávila: "Disse-me que, em ressuscitando, fora ver Nossa Senhora, que tinha já grande necessidade, pois a pena A tinha tão absorta e trespassada, que não tornou logo a Si para gozar daquele gozo, e tinha estado muito tempo com Ela, o que havia sido preciso, até A consolar".
"Oh que triste e aflita estava aquela bendita Mãe do Unigénito"!

 


 Ascensão de Jesus

Como Mãe, Maria não pôde deixar de Se alegrar pelo regresso vitorioso de Jesus ao Pai.
Mas, ao mesmo tempo, a espada de dor predita por Simeão continuou a fazer-Lhe sentir a Sua amarga realidade. Uma grande solidão se apoderou da vida de Maria. Ela já perdera Jesus duas vezes: aos doze anos no Templo, e, mais recentemente, com a Sua morte. Agora Maria
passa a estar afastada de Jesus durante um espaço de tempo muito maior: cerca de quinze anos, que é o tempo que medeia entre a Ascensão e a Assunção. Durante este tempo, Jesus continua a estar presente, mas de modo espiritual: no Pão Eucarístico, na Sua Palavra, e nos Irmãos. Começa nesta altura a crescer em Maria a saudade de ver Jesus na Sua Santa Humanidade gloriosa, o que constitui um sofrimento que vai aumentando permanentemente até ao encontro definitivo com Ele na glória.

 

Pentecostes

Jesus tinha permanecido com os Apóstolos durante três anos, passando esse tempo a instruí-los. Tinham assistido à Sua Transfiguração, Paixão, Ressurreição e Ascensão, para já não falar nos milagres que fizera durante a Sua Vida pública. Mas, apesar de tudo isto, na própria manhã do dia de Pentecostes, os Apóstolos estavam reunidos no Cenáculo com medo dos judeus. Ainda tinham medo de dar a vida por Jesus, de anunciar a Sua Palavra. Que tristeza deveria sentir Nossa Senhora, cujo Coração ardia de amor por Deus e pelo próximo, ao ver aqueles que Seu Filho escolhera como Seus íntimos, depois de tantos favores recebidos de Jesus, ainda tão falhos de generosidade para com Deus e para com o próximo.

 

Assunção de Maria

Maria viveu os últimos anos da Sua vida com a ânsia ou desejo intenso de voltar a ver o Filho, parecia já nem pisar a terra. Como já vimos no segundo mistério, desde a Ascensão de Jesus que todo o Seu ser exprimia este mesmo desejo que A consumia lentamente, e que A arrastava de certo modo à Sua transfiguração. Quanto mais avançava em anos, mais pálida e diáfana se mostrava a Sua fisionomia. Maria era como que um puro espírito. Ao chegar a hora da morte, sofria intensamente devido ao prolongado período de tempo que estivera afastada do Filho e sentia uma alegria intensa pois sabia que ia voltar a ve-Lo, alegria que A lançava como que para fora de Si mesma. Maria era um fruto maduro, pronto para receber a honra que mais nenhuma criatura tivera, nem voltaria a ter: a Sua Assunção, pela qual Ela iria diretamente para o Céu, não apenas com a alma mas também com o corpo.

 

Coroação de Nossa Senhora

Uma vez coroada Rainha de toda a criação, Maria não vive alheada dos Seus filhos na Terra, mas preocupa-se com o seu destino eterno. Em Fátima, foi com grande tristeza que mostrou aos pastorinhos o sofrimento dos condenados ao Inferno.
Por outro lado, sofre com as blasfémias e ingratidões dos homens contra Ela, como disse à Irmã Lúcia (de Fátima), mostrando o Seu Coração cercado de espinhos: "Olha para o Meu Coração todo crivado de espinhos, que os homens Me cravam a todos os momentos com as suas blasfémias e ingratidões".

 

 

Maria sofreu na Alma tudo que Jesus sofreu no Corpo.

 

Texto escrito por Irmão Buzaco de Portugal

 




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