Padre Santo




Reflexões
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29/01/17
A MORTE DE SÃO JOSÉ




 

A MORTE DE SÃO JOSÉ

 

(resumido)
(pag. 123 a 127) 

 

Quanto a meu marido, desfrutamos juntos de alguns anos felizes. José morreu quando Jesus tinha vinte anos. Já havia em Nazaré quem falasse de casamento para nosso filho, embora nós, seu pai e eu, soubéssemos que isto não estava nos planos de Deus, nem nos do rapaz. A morte de José colaborou para que durante algum tempo, este problema fosse afastado, pois pudemos dizer a todos que Jesus não queria deixar sua mãe só, e que havia decidido adiar a formação de sua própria família.

A morte de São José foi assim:

Um vizinho nosso tinha um rebanho de cabras na montanha, não muito longe de Nazaré. Era um lugar agreste e solitário onde os animais pastavam durante o dia, e à noite eram recolhidos em um cercado. Os lobos rodeavam o rebanho, e por isso, se fazia necessário protegê-lo bem, tanto pela segurança dos animais quanto pelo do pastor que ficava com eles dia e noite.

Umas fortes chuvas caídas no outono haviam derrubado parte da velha construção e era urgente reparar os escombros. Na montanha o frio era mais intenso que em nosso povoado e, além do mais, as feras poderiam penetrar nela pelas frestas. Assim, nosso vizinho, Maltaké, vinha pedindo a José com insistência que se deslocasse até o lugar com suas ferramentas, para consertar os destroços e, em seguida, construir uns presépios novos para as cabras. 

Finalmente marcaram uma data e, quando chegou o momento, notaram que não tardaria a chover ou talvez nevar, devido ao frio que fazia. Eu tinha medo que José saísse com aquele tempo, principalmente porque deveria ficar na montanha vários dias. Não estava muito bem de saúde, tinha fortes dores nas costas e se queixava de cãibras nas pernas. Embora estivesse previsto que Jesus o acompanharia para ajudá-lo no trabalho, como sempre o fazia, não me sentia segura.

José contornou minhas preocupações com o carinho com o qual sempre me tratava e disse que eu estava me tornando medrosa. Disse-me ainda que, se decepcionássemos nosso vizinho Maltaké, correríamos o risco de ninguém mais nos dar serviço, porque temos que contentar sempre os fregueses. Os pobres, concluiu, não têm escolha. Devemos aceitar o que nos dão, quando nos dão. E devemos dar graças a Deus por termos isso. Assim, aproveitou que pela manhã não chovia e partiu, protegido por uma grossa capa de pele. Jesus foi com ele. Levaram também um burrico para carregar os apetrechos, pois o trabalho que teriam que executar era pesado e precisavam de muitas ferramentas. 

Despediu-se de mim com seu melhor sorriso, para dissipar meus temores e, como sempre o fazia quando nos despedíamos, beijou-me na testa e me abraçou. Pedi a nosso filho que cuidasse de seu pai e que não o deixasse se resfriar.

Não fazia duas horas que tinham saído quando começou a chover. O que em Nazaré era água, na montanha era neve. Compreendi que não houvera tempo para chegar ao refúgio dos pastores e muito preocupada rezei pedindo ao Senhor, a quem de vez em quando me atrevia a chamar de "Pai", que protegesse meu marido e meu filho.

Conforme foram passando as horas, também em Nazaré a água se converteu em neve e, ainda que demorasse em se solidificar devido à umidade, os telhados das casas pouco a pouco foram tingindo-se de branco. Eu não podia estar mais inquieta, por mais que a fé em Deus me desse força nesse momento para manter a calma. Estava só em casa e a escuridão já começara a inundar tudo, obrigando-me a acender um lampião e de novo comecei a rezar.

Assim passei a noite toda, mais serena do que preocupada, com vontade de sair correndo para procurá-los e compreendendo que não poderia fazer outra coisa senão esperar. Entretanto, não deixei de rezar e pedir por meu marido e por meu filho, ao mesmo tempo que, pedia a Deus que me desse forças para aceitar a Sua vontade.

Na manhã seguinte Nazaré era uma aldeia totalmente branca. O frio era intenso, porém já não nevava. As crianças corriam pelas ruas, jogando bolas de neve umas nas outras, desfrutando daquele estranho espetáculo.

Fui até a casa de minhas primas e lhes contei o que acontecera, como José e Jesus tinham ido até a montanha, e o medo que eu tinha de que pudessem estar em apuros. Elas se inquietaram também e avisaram seus maridos. Decidiram então partir em busca deles aproveitando que, de momento, não deveria ocorrer outro temporal. Levaram pouco tempo para arrumar as coisas. Cinco homens se puseram a caminho, acompanhado por dois cavalos.

Não havia passado duas horas desde a partida quando já estavam de volta.

Voltaram todos, porém nem todos estavam bem. Jesus estava rígido de frio, com as mãos, os pés e o rosto que dava pena. Porém, o pior era José. Mesmo vindo montado no burrico e agasalhado com a roupa de meu filho, que havia passado a noite quase sem abrigo, na tentativa desesperada de cuidar do pai. Seu estado não poderia ser mais lastimável. Mal conseguia sustentar-se sobre o animal, e sua respiração era entrecortada e agoniada.

Levaram-no para dentro de casa e ali esfregamos azeite pelo corpo gelado. Também em Jesus, que não parava de chorar e de contar-me que havia feito tudo o que era possível para ajudá-lo. Mas, quando perceberam a gravidade da situação, já era tarde demais para voltar e se limitaram a buscar um refúgio, em que pudessem se abrigar da tormenta. Ali ficaram durante a noite toda sem poder acender o fogo, porque toda a madeira estava molhada, sentindo a frieza da morte sobre o corpo. 

José não resistiu muitos dias. Uma febre altíssima o consumia e dois dias depois já havia perdido a consciência, embora logo a tenha recuperado. As dores lhe oprimiam o peito e, ao tossir, parecia que lhe fugia a vida. Sem dúvida, querido João, apesar de tudo, não podes imaginar a serenidade que possuía. Entre uma crise e outra, fazendo enormes esforços, tentava me consolar assegurando-me que tudo ia bem e que neste momento, como em todos os anteriores de nossa vida, a única coisa importante era continuar acreditando no amor de Deus.

Falava já de amor de Deus, porque tanto ele como eu, havíamos aprendido o que isto significava, graças a nosso filho. Deus é amor, dizia segurando minha mão.  Deus é amor e devemos crer nisso não só nos momentos em que tudo vai bem, como também nos momentos difíceis. É para os momentos difíceis que temos que reservar a amizade e é quando temos que pôr à prova nossa fé no amor de Deus.

Maria, repito agora o que um dia te disse o anjo:_"Não temas, pois se cumprirão as palavras do Senhor". A teu filho, a meu filho, nada ocorrerá até que chegue o momento, e quando este chegar, aconteça o que acontecer, será também a vontade do Altíssimo, de Seu Pai, de nosso Pai. 

Depois quis ficar a sós com Jesus. Falaram por muito tempo, como havia ocorrido com Ana, minha mãe, quando lhe chegou a hora da morte. Jesus fez também sobre sua testa o então estranho sinal da Cruz e beijou, como havia feito com sua avó, as mãos e a testa de José.  Suas lágrimas, o mesmo que ocorrera com Ana, corriam abundantes e era um bálsamo que descia sobre o moribundo.

Depois disso, José não perdeu mais a paz em momento algum. Seu rosto estava transfigurado e nem as fortes dores que sentia lhe arrancavam da face, a imagem da serenidade. Ainda esteve consciente por quase um dia, mas nada mais pode dizer. Somente, ao final, pediu a Jesus e a mim que lhe déssemos a mão e, sussurrando, disse:_"Maria, só Deus sabe o tanto que te amo! Só Deus sabe a sorte que tive em poder viver contigo todos estes anos! Que Deus te bendiga pelo amor que me deste! Agora nos separamos, porém isto durará pouco. Logo voltaremos a estar juntos, como agora, com Deus entre nós, para sempre". A Jesus disse:_"Meu filho, sou o único homem do mundo que te pode chamar assim, por isto me felicitarão todas as gerações! Te amei tanto, como não o haveria feito um pai normal e recebi mais de ti do que tivésseis sido um filho de meu sangue! Agradeço por honrar minha linhagem com tua presença! Agradeço por anunciar-me o mundo da felicidade que agora me espera! Não posso te abençoar, pois tu é que tens que fazer isso. Faze-o logo que o fim se aproxima". Jesus o abençoou e fez novamente, como à sua avó, o sinal da Cruz em sua testa, em seus olhos, em sua boca e em suas mãos.

Pouco depois nós dois nos debruçamos sobre seu corpo que acabava de morrer. Havia partido e com ele ia o meu companheiro de minha alma. Aquele com quem compartilhara tantos momentos difíceis e tantas alegrias. Sua morte foi muito sentida por mim e também por Jesus. Durante vinte anos nosso lar foi a antessala do paraíso.

Obs: Jesus, aos doze anos fez o sinal da Cruz na testa, nos olhos, na boca e nas mãos na hora da morte de sua avó Ana. Sua avó, Ana, morrendo disse:_SENHOR !  
Porém não deram importância considerando um desvario de sua cabeça nos últimos momentos. E aos 20 anos fez o mesmo gesto em seu pai José e ninguém entendeu. Nossa Senhora depois explica que ela notou este gesto, mas só depois veio a compreender. 

 

Livro: “ O Evangelho Secreto da Virgem Maria “ Editora Paulus ; Autor (tradução ) : Pe. Santiago Martín .

Obs: Livro baseado em livro encontrado por Egeria, monja espanhola , no final do sec. IV durante uma viagem que empreendeu à Terra Santa. Egeria, diz ter recebido de um monge grego, companheiro de São Jerônimo.
 




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