Padre Santo




Dogmas de Fé
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21/07/20
INFERNO DESCRITO POR SANTA TERESA D'ÁVILA




 

INFERNO DESCRITO POR SANTA TERESA

 

Passado muito tempo desde que o Senhor me tinha feito muitas graças já descritas e também muitas outras, também importantes, enquanto um dia eu estava em oração, me pareceu encontrar-me de repente no fundo do inferno, sem saber como. Entendí que o Senhor quis que eu visse o lugar em que os demónios me tinham preparado e que eu o tinha merecido pelos meus pecados.

Esta visão foi muitissimo breve, mas, mesmo se tivesse de viver muitissimos anos, me parece de nunca mais esquece-la.

A entrada parecia um pequeno riacho, bastante longo e estreito, como um forno muito baixo, escuro e estreito: o piso, uma lama cheia de sujeira e de um cheiro de pestilência, em que se mexiam uma quatidade de répteis repelentes. Na parede de fundo havia uma cavidade com um pequeno armario encaixado no muro, onde me sentí fechada num espaço bem restrito. Mas tudo isso era até uma visão prazeirosa em comparação àquilo que tive de sofrer.

O que disse, entretanto, foi mal descrito. O que estou para dizer, porém,me parece que não possa tentar escreve-lo nem possa ser entendido: sentia na alma um fogo de tal violência que não saberia como descreve-lo: o corpo estava atormentado de tantos intoleráveis dores que, embora os tenha sofrido nesta vida muito mais fortes, ou seja, pelo que dizem os médicos, dos mais atrozes que na terra se podem sofrer, porque os meus nervos se contraíram quando fiquei paralizada, sem dizer de muitos outros e de vários tipo que eu tive, algum deles, como já disse, causados pelo demónio - tudo é nada ao quanto sofrí aí, tanto mais pelo pensamento que seriam tormentos sem fim e sem descanso. Assim mesmo, isto não era nada em comparação aos tormentos da alma: uma opressão, uma angustia, uma tristeza tão profunda, uma angustiante e desesperadora dor, que não sei como descreve-la. Dizer que é como sentir-se extrair a alma é pouco, porque morrendo, parece que outros ponham fim à nossa vida, mas aqui é a mesma alma que se despedaça.

Não sei mesmo como descrever aquele fogo interno e aquele desespero que apavorava com tão horríveis tormentos e com grande sofrimentos.

Não via o que os provocassem, mas me parecia sentir-me queimar e dilacerar: repito, entretanto, que o pior suplicio foi dado por aquele fogo e aquele desespero interior.

Estava num lugar nefasto, sem alguma esperança de conforto, sem a possibilidade de me sentar e estender as partes do corpo, fechada como estava naquela espécie de buraco na parede. As mesmas paredes, horríveis ao ve-las, me pesavam tanto me dando uma impressão de afogamento. Não havia luz, mas trevas espessas. Eu não comprendí como poderia acontecer isto, que, mesmo não havendo luz, pudesse se enxergar igualmente e que podia dar pena aos olhos.

O Senhor, então, não quis me mostrar algo mais do inferno; em seguida, entretanto, tive visão de coisas apavorantes, entre elas o castigo de alguns vicios. Ao ve-los, me pareciam bem mais terríveis, mas como não experimentava o sofrimento, não me davam tanto medo, enquanto nessa primeira visão o Senhor quis que eu sentisse verdadeiramente no espirito aquelas angustias e aflições, como se os sentisse no próprio corpo. Não sei como isto a conteceu, mas percebí muito bem que, pelo efeito de uma grande graça, é que o Senhor quis me fazer ver com meus próprios olhos de onde a sua misericordia me tinha libertado.

Sentir e falar do inferno é nada, como nada é o fato de algumas vezes tenha meditado sobre os diversos tormentos que procura (mesmo se às vezes o caminho do temor não é feito pela minha alma) e com que os demónios torturam os danados e sobre outros que ainda lí nos livros: não é nada, repito, diante dessa pena, que é bem outra coisa. Existe a mesma diferença que passa entre uma foto e a realidade; queimar-se no nosso fogo é bem pouca coisa em comparação ao tormento do fogo infernal.

Fiquei apavorada e ainda o sou enquanto escrevo, mesmo que tenham passados quase seis anos, tanto da me sentir abatida do terror aqui e agora, aonde estou. Assim não há uma vez em que seja angustiada de qualquer sofrimento ou dor que não me parece um joguinho tudo aquilo que se pode sofrer nesta terra, convicta que, em parte, nos lamentamos sem motivos.

Retorno, portanto, a dizer que esta é uma das maiores graças que o Senhor me deu, porque me ajudou muitissimo, seja para não temer mais as tribulações e contradições desta vida, seja para me esforçar a suporta-las e agradeço o Senhor de me ter libertado, como agora me parece, de males assim terríveis e eternos. Desde então, repito, tudo me parece fácil em comparação a um instante daqueles sofrimentos que eu tive aí, de sofrer.


 




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